Sobrevivi ao meu primeiro Lés-a-Lés










Um pequeno relato da edição 2008 do Portugal Lés-a-Lés, realizada entre 22 e 24 de Maio, entre Bragança e Sagres e na qual participei pela primeira vez.



1ª Etapa – A técnica, as curvas, o verde
Saída às 7 da manhã, num dia que se adivinhava complicado. A informação meteorológica não era animadora, o céu estava cinzento mas seco. A primeira curva debaixo do arco da muralha da Cidadela de Bragança era uma primeira pista do percurso que nos estava destinado.

Partimos. O road book dizia “ grandes curvas para acordar” … e que acordar. Um zig-zag por entre a paisagem fresca e verde, com cheiro a terra molhada até Outeiro, seguimos para Carção e continuámos em direcção ao pequeno-almoço. Chegados a Algoso esperava-nos um corredor de pastelinhos e muitas calorias, já a prever o desgaste da viagem.


Visita por entre as ruas de empedrado da Vila e apanhamos a N219, estrada larga com bom piso. Mas não, não se habituem pois ali à frente há uma cortada para um caminho de terra, a descer muito, muito, até ao rio Angueira onde na ponte velha nos esperava o primeiro pica. Um vale fabuloso, onde serpenteava o rio e onde fizemos umas fotos, sob um sol morno e ainda com as remelas ao canto do olho. A subida era a pique, com curvas apertadas, terra e pedrinhas para chegar à ponte nova suspensa entre dois montes.




Voltámos à estrada mais uns kilometros até um desvio sem nome para Azinhoso, uma pequena aldeia transmontana de ruas estreitas, casas de pedra e ruas de pedra, onde procuramos um pelourinho escondido para picar de novo o cartão. Começo a pensar se vamos passar em todas as ruas de empedrado de todas as aldeias e vilas transmontanas. Por acaso não chove, mas se ela começa a cair fica uma sopa de pedra molhada bem boa para as duas rodas resvalarem.

Mogadouro, Mazouco, Freixo-de-Espada-à-Cinta, mais povoações que atravessámos pela manhã, num andamento cheio de energia, muitas curvas, estradas estreitas e estradas menos estreitas, até ao Miradouro de Penedo Durão, sob um sol tímido. A paisagem era imensa, esmagadora, sem fim. O Douro Internacional estendia-se aos nossos pés. Depois de mais uns kms, com uma prova de terra para quebrar a monotonia do alcatrão, continuávamos lá em cima, bem em cima do mundo.



Começámos a descer por entre o nada, por entre tudo, por entre uma vista fabulosa que convidava a parar e a respirar. Lá em baixo o rio era um risco azul a cortar o verde dos os montes à volta. Nem o céu cinzento conseguia tirar a beleza da vista para lá do horizonte. Aquela estradinha era um mimo. Estreitinha e sinuosa, passeou-nos pela serra, desceu junto ao rio e subiu de novo. As motos eram muitas. Olhava para trás e via motos, olhava para a frente e via motos. Parecia um carreirinho de formigas verdes a serpentear por aquela paisagem.

Mais curvas até Barca de Alva e mais curvas até Figueira de Castelo Rodrigo, o passeio era um sem fim de curvas, de estradas sinuosas, de paisagens verdes. O pessoal fez o gostinho ao dedo, ao punho, ao pneu. Era curvar até ao limite, bom piso a convidar à vertigem até roçar com as malas no chão. No meio da Serra da Marofa parámos junto ao primo do Cristo-Rei, mais uma vista deslumbrante e umas águas para enganar o estômago. O tempo está a aguentar, entremeia sol com nuvens mas água só mesmo nas garrafitas. Está quase na hora do almoço e ainda temos uns 20 km até ao almoço. Parece pouco mas naquelas estraditas é “boé-da-longe”.

No Castelo de Pinhel um carrossel de ruinhas, estreitinhas, empedrado claro e por vezes nem isso, a convidar ao tombo, convite que alguns aceitaram e outros estiveram quase. Chegados ao almoço, numa adega cooperativa onde o vinho era escasso mas o pão era muito, o porco no espeto passeava em enormes travessas. A fome apertava, comia-se tudo seja lá como for.

Se a manhã foi pacífica, com o céu seco e muita adrenalina nas curvas, a tarde nem por isso. Para sobremesa prolongada, a chuva caiu sem parar. A estrada continuava sinuosa, o piso molhado, foi um passar de povoações num andamento vertiginoso, com pressa de ir andando. Vila Franca das Naves ficou para trás, em Celorico da Beira equilibramo-nos em mais uma ruas estreitas e empedradas, casas em pedra, muros em pedra. Apanhámos a estrada da beira com mais curvas largas que não puderam ser feitas a fundo pois a chuva não deixou.

Uns km à frente, o lanche acenava. A chuva deu-nos tréguas e parámos num excelente parque em S. Gião. O rio cantarolava, a lama ria-se dos aventureiros e a escada era de rampa. Escorregamos por ali abaixo.

Depois de 8 horas intermináveis, o dia de trabalho tinha acabado para mim. Estava com medo do dia seguinte, diziam que seria bem violento, já estava cansada e decidi apanhar uma boleia directa para Coimbra. Chega de chuva, chega de vertigem, quero ver o outro lado do Lés a Lés. Estrada da beira de novo rumo a Coimbra. Consegui ir dar em frente do Portugal dos Pequeninos e segui o road book até à chegada. Cheguei antes de todos.

Os voluntários do final da etapa olharam para mim com surpresa. A equipa zero ainda não tinha chegado. Aconteceu alguma coisa? Não, só fiz batota. Estacionada em frente ao palanque fiquei a mirar os preparativos para receber os participantes. Adivinhava-se o nervoso da chegada, o pessoal vestia os coletes da organização, alinhavam as grades, as meninas preparavam os sacos do protector solar, todos olhavam para o relógio. As pessoas passavam e perguntavam o que se ia passar, paravam a ver aquela azáfama, ficavam por ali.

Ao fundo da rua apareceu a equipa zero. Subiu ao palanque. Vinham cansados, molhados, desgrenhados mas sorridentes. Mal tiraram os capacetes cumprimentaram todos, abraçaram-se, com aquele brilho de missão cumprida, alegria da chegada e satisfação de dever cumprido. Estavam eufóricos, até aqui correu tudo bem, o Lés a Lés começa a chegar a qualquer momento.


As motos foram arrumadas, os voluntários posicionaram-se para indicar o estacionamento, a polícia estava a postos para parar o trânsito, a aparelhagem sonora foi ligada, o microfone testado. Depois daqueles km de reconhecimento, de distribuição dos alicates-pica-cartões, de ansiedade para saber o que se passava lá atrás, se a coluna de 900 motos vinha intacta sem percalços, aqueles resistentes preparavam-se para receber a comitiva.

E as motos começaram a chegar. Pouco a pouco, sozinhos, dois a dois ou em grupo, chegam motos, mais motos, o sol começa a descer, vêem-se faróis, muitos faróis, alinhados num corredor à espera de subir ao palanque. A organização dá as boas vindas a todos, entrevista todos, conhece todos, anima a rua. A equipa zero reveza-se para acarinhar os aventureiros, umas boas horas na recepção, num último esforço para acabar o dia em grande. Aquelas alminhas ficaram ali um bom par de horas, sempre a falar, a cumprimentar, a fazer as honras da casa, sujos e cansados.

O jantar estava à espera. Subi até à esplanada montada no exterior do estádio e fui presenteada com um arroz cru de feijão e uns bifinhos de porco no espeto. Pra variar. Só pensava que ainda tinha de ir até ao Hotel e já não tinha forças. Aterrei na cama. Dormi mal, aquele sono leve, leve, que se dá por tudo, que se ouve tudo, não sei se estou acordada se estou a sonhar.

2ª Etapa – A Prova de resistência
Partida de Coimbra. Cedo. Muito cedo. Ainda a dormir apresentámo-nos no palanque. Lá fomos para umas voltas à cidade. Pois é. Pensavam que Coimbra era uma cidade civilizada. Enganam-se. Tem ruas empedradas. Há pois tem! E vamos lá percorre-las para não perder a prática.

Saímos para o Portugal perdido, numa madrugada escura, a subir a serra, a dominar uma vista de sombras intermináveis, a ver uns farrapos de nevoeiro aqui e ali por entre os montes verdes escuros, com o frio a ameaçar o dia. O prognóstico era desanimador, esperava-se chuva para o dia todo.


E lá vamos nós, rumo a Alcabideque, onde a seguir à Torre procurámos o único pedaço de estrada que o presidente da junta se esqueceu de alcatroar. E era a subir, a subir, a subir e estava cheio de lama e chovia a potes. 500 metros a subir só para apanhar a estrada principal.


O sol nascia mas não era sobre nós. Talvez noutro país distante pois só víamos cinzento, água e mais água, o céu desabava, não se via nada só chuva e mais chuva, forte e pesada. Debaixo daquele dilúvio seguimos em direcção a Rabaçal, passámos pelo largo principal de Ansião, desta vez não é empedrado mas fazemos questão de passar pelas piores ruas que há pelo caminho. Rumo a Freixianda, acompanhados por um arco-íris completo, repleto de cores que não eram suficientes para dar alento à romaria da chuva, lá fomos em direcção a Ourém.


As nuvens eram negras, lá ao longe parecia que o céu estava a despontar, rodámos sempre em frente rumo ao sol que também rodava para longe de nós. A estrada não se via, a torrente de água não acabava.



Chegados a Ourém, a subida para o Castelo fazia-se por uma excelente estradinha, inclinada a 94 graus, piso empedrado (claro), com curvas em U e bem molhadinha daquela chuvada que teimava em não parar. Valeu-nos o café e os pastelinhos do pequeno-almoço. Se a subida foi difícil, estávamos com sorte pois a descida foi pior. Uma rampa em alcatrão, com cinco centímetros de largura, a descer a pique, com curvas em cotovelo, em W, em nó. Um pavor.



Estrada de novo para a continuação da prova de natação. Riachos, Golegã, Chamusca, Montargil, Mora, terras que passamos à pressa, em direcção aqueles tufos fofos e brancos que se viam lá ao longe no céu. Paragem para um cafezito e começam as apostas. Depois do menu de ontem, concentração em Brotas, porco no espeto outra vez!

Fomos enganados. Afinal o porco também fugiu da chuva. Depois daquela maratona esperava-nos um belo rancho, debaixo de uma enorme tenda às riscas que naquele momento pareceu um palacete, seco, sem água.

Barriga cheia, energias recuperadas, estrada com eles. A chuva deu tréguas, as planícies alentejanas estavam à espera. Rodámos punho para recuperar o atraso da manhã, o sol começou a aquecer e secou os fatos, ajudou o ritmo com que cruzámos as rectas intermináveis de asfalto direito, de horizonte direito, salpicado de sobreiros. Há que aproveitar a monotonia da estepe alentejana para descansar. Montemor-o-Novo, Alcáçovas, Grândola, terras acolhedoras, muita gente à beira da estrada, incrédula com tantas motos a passar, acenavam, as crianças pulavam, os aventureiros apitavam e cumprimentavam. A festa ia em direcção ao sul.



Agora é que é. Agora volta a excitação do piso difícil, os anunciados estradões. Uma auto-estrada de terra batida, em linha recta, poucos buracos, muito pó, meia dúzia de curvas. Tudo acelerava por ali fora, uns a medo, outros sem medo, motas trail, motos pesadas, vespas, side-cars, uns de pé, outros sem pé, o festim mais desejado e mais temido do percurso. Passámos por montes, por pares de casario, quem disse que o Alentejo é quase desabitado engana-se. A população estava toda na estrada, Só faltavam as colchas à janela para saudar a procissão das motos.


Depois de um pequeno lanche, numa povoação perdida na pradaria, seguiu-se a tradicional passagem do rio a vau. A malta toda contente. Aquilo até nem foi difícil, a altura da água era razoável, até se conseguiam ver os sapinhos. Estão-se a rir ….. então tomem lá …… Luta na lama. Um bocado de estrada bem pegajosa, fofa e gelatinosa, cheia de pocinhas para brincar. Programa para adultos com kit de unhas. As motos escorregavam, resvalavam, andavam de lado, atolavam, afogavam, passava um, caíam dez.




Em Odemira paragem para atestar. A fila era grande e também era grande a fila para dar um duche às motos e às botas, enlameadas até ao joelho, alguns enlameados até ao pescoço. Mas a adrenalina não acabou aqui. Vêem aí umas curvitas de cortar a respiração, serra de Monchique acima, serra abaixo, agora não chove, vingança na estrada. Curvas apertadas, orelha no chão até à civilização turística algarvia.


Paragem para cumprimentar o patrocinador, filinha para picar cartão, quem veio depressa perdeu a pressa, picava-se por número, compasso de espera para ordenar a caravana.


Num Algarve que já não existe, passagem por simpáticas terreolas, chegámos ao mar, um pôr-do-sol fantástico, uma estrada paralela à civilização e Sagres à vista.


Já anoiteceu mas era grande a iluminação do local de chegada, com tantos faróis de motos alinhadas para subir ao palanque e, finalmente, terminar a grande aventura. As apostas recomeçaram. Local descampado frente à fortaleza, ausência de infra estruturas para cozinhar, cá vem o porco no espeto, desta vez não me engano. Pois é, engano mesmo. Os tachos da feijoada estavam à espera.


Diziam as simpáticas senhoras – menina, olhe que o arroz já está frio. Mas se regar com o caldo da feijoada fica melhor. Aceitei a sugestão assim como o leite-creme da sobremesa. Naquela altura que se dane a dieta, preciso mesmo é de calorias. Depois de começar às 6:30H da manhã, fazer aquele ror de km, às 9 da noite já estava por tudo. E estava mesmo exausta, dormente, esfomeada e, sobretudo, feliz. Feliz por ter chegado ao fim, feliz por ter amigos que me apoiaram, feliz por ter vivido aquela aventura.


Esta é apenas uma pequena história do meu primeiro Lés-a-Lés. Há muitas mais histórias. Este ano são, certamente, cerca de mil histórias acontecidas ou testemunhadas por mil aventureiros. Cada um tem as suas histórias para contar, nas conversas de amigos, nos encontros, cada vez que se falar nesta epopeia. São essas experiências que alimentam as recordações dos que lá foram, do imaginário dos que nunca foram, da expectativa da próxima aventura, no próximo ano.











Moto rali Motards do Ocidente – Breve relato de uma principiante







Moto rali Motards do Ocidente – Breve relato de uma principiante

Deixo aqui um pequeno relato do moto rali organizado pelo Moto Clube “Motards do Ocidente” em 3 e 4 de Maio de 2008, o qual juntou três dezenas de participantes, amantes de passeios, cultura, aventura e ….. petisco.

Uma breve descrição dos locais visitados, das peripécias vividas e das … das … das … bom, é melhor lerem.



1ª Parte
(ao que parece a 2ª vai ser melhor)


Sábado:
Manhã solarenga, ponto de encontro no Castelo de Sesimbra, construído na época muçulmana e uma das edificações integrantes do “Plano de guerra defensivo” dos nossos tetravôs. Cumprimentos, distribuição de road books, à hora exacta, deu-se a partida. A primeira tarefa foi árdua (o controlador tinha desaparecido) mas valeu a visita ao Castelo. Descida à bela estação de veraneio, um rápido olhar pela fortaleza, parada pela marginal, subida em caracol apertadinho e rumo a Azeitão. Cheirámos as tortas ao longe, seguimos para Palmela. Estrada cheia de atarefados para as compras de fim-de-semana, o percurso possível naquela zona.

Subimos ao Castelo de Palmela, fortificação que remonta à romanização da península ibérica, situado num dos pontos mais altos da Serra da Arrábida … Bingo … desta vez encontrámos o controlador… Visita ao Castelo, resposta às perguntas e o primeiro jogo.

Descida até à Vila, direcção Azeitão e Colares, rotunda à esquerda rumo a “Barris” … de pólvora para mim, pois era maçarica em estradas de terra. O piso até era mais-ou-menos, cerca de 4 km em direcção à belíssima Serra da Arrábida, onde desembocámos naquelas estradas a dominar a fantástica vista, subimos até ao alto, respirámos imensidão, um sol magnífico a convidar para as praias lá em baixo. Mas não podia ser… passámos um controle secreto, que alguns não viram tal era a paisagem.

Até aqui eu andava meia perdida, a lutar contra os hieróglifos do road book, coisa difícil para uma principiante. Na dúvida, esperava pelo próximo participante para saber que lado virar. Eis senão quando aparecem os “lentinhos” e a simpática Catarina convida-me a juntar-me a eles. Estava formado o trio maravilha, liderado pelo Gil e religiosamente seguido pelas duas ladys motards.

Já com outro alento, demos a volta à Serra e descemos até ao mar para visitar as Ruínas do Creiro, uma fábrica romana de salga de peixe. Uns metros abaixo, na Praia do mesmo nome, esperava-nos o almocito. Mas esperem … calma lá … ainda têm de superar uma prova. Foi ver o pessoal a passear ovos crus, ardilosamente equilibrados em colheres seguras na boca – ai … ai … ri-te, ri-te e … chão! Penalização!

Após “degustar” a entrada, serviram a feijoada de choco, combustível necessário para dar gás …. à próxima etapa.

E vamos nós, pelo que resta da Serra da Arrábida, rumo a Setúbal, para desfrutar de um cruzeiro pelo Sado, em paquete de luxo. Saída em direcção à praia da Comporta (raios agora ficava aqui) e passeio pelo estuário do Sado. Visita ao cais palafítico, obra incrível de arquitectura popular, onde nos esperava mais uma prova. Todos têm de construir um puzzle, sentados num passadiço, por entre os barcos e as redes. Superada a prova, volta à estrada, mais uma vez de terra, direcção Sul. Rectas e mais rectas, bom piso, kms e rectas. Paragem noutra praia alentejana (quero ficar na praia), muito calor, outra prova à espera. Arranjei uma pendura de empréstimo (obrigada Sandra) para disputar uma corrida de chancas. Correu bem. Desta safei-me!

E agora, com o Destino à vista, debandámos mais para Sul, em direcção a Vila Nova de S. André. Gil e as Amazonas só pensavam num mergulho na piscina. Chegados ao local, ainda não é agora. Trocámos as duas rodas por quatro … mas 4 pequeninas. 4 rodinhas de um Kart, aquilo é que foi acelerar. Sem polícia, sem limites de velocidade, um fim de tarde a todo o gás!






2ª Parte
(ao que parece que a primeira foi ….)



Sábado à noite:
Tudo começou com um “Moscatel de Honra”. Eu quero com uma pedrinha de gelo, eu quero com duas, eu com três e a malta lá deu vazão ao moscatel. Entrada para o restaurante e Lady Penão, em traje de gala, ia fazendo as honras à casa …. Madames … Messieurs, sil-vu-plé ……

Bom, até aqui tudo bem. O jantar decorreu na normalidade que se esperava, o belo arroz de tamboril foi um ar que lhe deu e as sobremesas também … ai …. aquelas sobremesas ….

Eis senão quando …. Tivemos uma aparição ……o entretainer do Hotel entrou de rompante, a cantar, deu um olhar de convite e voltou rapidamente para o bar. Não foi preciso mais nada, a malta seguiu o convite, bem comportadinhos (claro, estava em jogo a ida ao BAR), lá fomos. O dito cujo estava cheio de hospedes, a ouvir aquele show man. Na sala contígua havia espaço. Pois então, sentados a ouvir canções do nosso tempo, os pezinhos começaram a aquecer. Mas a malta ainda não se tinha ambientado.

Conversa de motos, eu ia à frente, tu ias dando um terno, aquela curva, ai e tal, bebidas para a mesa mas os motores ainda frios. Que é aquilo? As ladys motards vão aonde? Surpresa, espanto, incrível, …. E não é que elas se colocam atrás daquele pequeno-grande artista, qual starlets, a dançar, mãozinhas para lá, pezinhos para cá, sorridentes, abriram o baile …. Correcção, abriram qualquer coisa parecida pois …. Não se podia dançar!!! ?????? (ordens da gerência).

O artista nem queria acreditar. Foi o início da apoteose. As palmas não paravam. Os motards assobiavam, gritavam, não se calavam. Um sucesso. Depois, bem depois, …… depois nem imaginam. Os motores aqueceram, enrolaram punho, e foi sem parar até entrar no red line. Nessa noite revelaram-se vários artistas.

Mais ladys promovidas a starlets e gentlemans a dar ao pé (mas quietinhos pois não se podia dançar). Só que a pressão era muita ……e de repente começou a versão motard dos “Idolos”.

Ele era ver o Olivença agarrado às maracas a seguir o compasso da música, o Lima a bambolear o pezinho, direita, esquerda, nasciam dançarinos às dezenas, o Mimoso (o Gil de Albufeira) dava aos bracitos, todos ao som do karaoke do Zé Rebelo que agarrado ao microfone sentia-se uma estrela. Cada vez que acabava uma música, chorava …. Quero mais!. A animação era tal que o Gil (homem do Norte, claro) voltou às origens e pediu …… os Patinhos …… sim, os patinhos! E o grande maestro da banda, concedeu-lhe o desejo. Patinhos a dançarr ….. e rabinho a dar a dar…. Piu –Piu …. Piu-Piu …. E lá dava com o rabinho, para um lado, para o outro, aquilo era contagioso, mais rabinhos a dar a dar, aquele pessoal das motos …. Inacreditável … rabinho a dar a dar …. (o Olivença também mas com as matracas).

Chegado à pressa da sala do snoker, Herr Krull pegou num instrumento musical (para acompanhar a banda) …. e qual máquina-bávara-potentíssima, …. estragou o objecto. Retirou-se cabisbaixo. Mas os amigos estavam lá, sim para dar o devido apoio. Começou uma colecta para reparar os estragos e a boina do entretainer encheu-se de solidariedade (o Vítor continuava agarrado às maracas).

Um casal de enamorados (tiveram de tirar o microfone ao Rebelo) dançava apaixonado. Veio o barmem que comunicou (uma vez mais) - não era permitido dançar. O Zé encorpou o seu papel de polícia e … não deixou mais ninguém dar ao pezinho. Assim que via um pequeno movimento lá corria ele para o criminoso …. Tsss tssss ….não…não ….

A noite acabou com os hospedes do hotel a fugirem para os quartos, o pessoal das motos (energúmenos) a dançar por todo o lado, um a tocar os tambores, outro a cantar karaoke, o Olivença (ainda) a tocar as maracas, o rabinho a dar a dar, a malta a bater palmas, todos em coro …. Uma da manhã … Eiiii … duas da …. Heiii … Heii… heiiii … prontos, estava na hora, fechou o bar.





Domingo:

Manhã de nevoeiro, avaria numa moto que o Pedronho dizia – é da junta! – qual junta? - junta tudo e deita fora … reboque a carregar a moto (tem de se manter a tradição, moto rali sem avaria não é rally, não é nada), lá partimos para a 2ª etapa. Penagirl dava a ordem de partida! Serra de S. Francisco, visita à Igreja paroquial, meia dúzia de curvitas e o belo do estradão. Motos a rolar, poeira, pedrinhas, o Gil lá conduzia pacientemente sus muchachas por aqueles “maus” caminhos.

Vegetação característica, ervinhas e florzinhas, pessoal a aprender botânica, é preciso apanhar “Urze”, mas que raio são “Estevas”, o Mimoso a subir um sobreiro para apanhar folhinhas. O Olivença passa por nós com saudades das maracas. Mais à frente um controlador esperava para mais uma prova. No meio do nada atirámos bolas ao alvo e respondemos à perguntinha da praxe. O Sérgio de olho no cumprimento das regras, estava em todo o lado.

Mais pó, mais TT, está tudo amarelo, ouve-se o Rebelo a cantar, ainda se imaginava no karaoke. Chegados a Abela, tudo em romaria até à Igreja. Segue-se o caminho de Santiago, uma estrada estreita, curvinhas e mais curvinhas, rectas alentejanas, paragem para uma perguntinha e treinar com a fisga. Descobre-se o início da paisagem alentejana, pradarias sem fim, sobreiros, calor, finalmente Santiago do Cacém. Subida íngreme, a 90 graus até ao Castelo, empedrado, a pedir a melhor perícia dos participantes. Estacionamento possível nos intervalos dos carros, domingo hora da missa, foi o que se arranjou.

Foto de grupo e ala para o restaurante onde nos esperava uma farta grelhada mista. Conversa de motos (claro), eu fui por ali, aquela subida, falhou-me o pé, dei-lhe gás, a moto até andou de lado, a dar a dar, piu-piu, piu-piu, peripécias à volta das febras.

Agradecimentos à organização (João, Patrícia e restantes organizadores, um muito obrigada pela simpatia), agradecimentos aos participantes (todos 5 estrelas) entregas de prémios e lembranças, boa viagem a todos. Voltámos para casa.







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moto rali motards ocidente

WresteMania – Crónica de uma mãe pasmada

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Eu já tinha reparado que a filhota vê algumas vezes combates de wrestling na SIC Radical. Nunca me preocupei pois quanto mais de proíbe, mais se desperta o desejo de fazer. O que nunca pensei foi que tinha de ir ver um destes espectáculos ao vivo e a cores. Pois é, lá rumei ao Pavilhão Atlântico, no sábado, pois a catraia não se calava e os bilhetes foram oferecidos.

Pasmo 1 – Três quartos da população presente eram crianças e adolescentes. Pai e Filho(a); Pai e um grupo de crianças que os outros pais lhe impingiram para não terem de aturar aquilo; grupos de adolescentes entusiasmados e saltitantes; adultos adeptos e, claro, aqui a je com a filhota.

Pasmo 2 – Aquilo estava à pinha. Respirava-se ansiedade no ar. As camisolas, tamanho de criança já estavam esgotadas. Ainda assim, venha de lá um small senão o pequenote não se cala. Um grupo de garotas atrás de mim sabia os nomes deles todos. Tecia comentários sobre quem iria ganhar, que aquele é boé da grande, o não-sei-quantos é muita fixe e ainda o não-sei-o-nome é boé da giro.

Pasmo 3 – Ao preciso minuto que era suposto começar, a saraivada de assobios era fenomenal. Esta malta não perdoa. É a geração Y no seu melhor!

E lá entraram uns lutadores com capas de circo, roupas fluorescentes que acabaram em calções, com marcas no rabo, tipo ferro de rancho do faroeste. E vai de chapada, murro, rasteiras, sobem às cordas do ringue, atiram-se uns aos outros, pontapé, golpes de acrobacia, caem de costas, o árbrito começa .. One… Two… e o gajo dá um pinote e começa de novo a pancadaria (ao three parece que é vitória).

Os combates começam com Ex campeões de WWE (o designativo da liga da pancadaria), lutadores já de segunda linha que vêem aquecer a malta. Perto de nós está um expert do desporto, não tem mais de 14 anos, que comenta os golpes do ringue.

Combates homem-homem, duos homem/mulher em cada equipa, Triple-Threat de seis lutadores em ringue, aos pares. Nestes combates de multidão, está um de cada vez a pontapear o adversário. Quando se fartam de enfardar, passam o testemunho ao parceiro de equipa que salta entusiasticamente para o centro e ….. revenge no adversário.

Claro está que aquilo é pró menino e prá menina … não podia faltar o combate das Divas na luta pelo título feminino. A (ainda humana) campeã Mickie contra a Ex-campeã Glamazon, como o nome indica uma matrona loiraça, pesada e furiosa. Mesmo ao estalo e ao puxão de cabelos as moçoilas conseguiam manter uma (relativa) sensualidade, mais que não fosse à custa do bocado de fio dental que teimava em espreitar da licra colada e fluorescente.

Também não faltou a provocação ao público, quando entrou OOOooooo Jay Beee Leeee … um cowboy urbano, América até à medula, que se pôs a insultar o público com comentários sobre Portugal e uma tentativa frustrada de cantar God Bless América. O tipo conseguiu. Conseguiu irritar o público de tal forma que a barulheira, assobios, gritos e vaias eram tantas e tão alto que mesmo com o microfone, não se ouviu patavina do que ele cantou. Fiquei pasmada!

Bom, o auge do espectáculo foi mesmo o último combate. Quatro lutadores da moda. Um monstro troglodita tatuado que dá pelo nome de Umaga, uma estátua grega bem trabalhada Campeão da WWE – Ra - ndy Or - tonnnn, um loiraço grande e musculado Ccchrissss Je – ri - choooo e o grande, genial, cabelo comprido, barba por fazer, gigante com eternidade de ginásio, Triiii - pleee EIDGGG (H), o ídolo da minha filhota (a miúda tem bom gosto, tem!)

Quatro mastodontes em palco … Oopsss, no ringue. Quatro fúrias em golpes fulminantes, posições acrobáticas, a aplicar golpes com nomes como "Spinebuster", “Pedigree”, "Codebreaker”, "Samoan Spike", "Knee Smash" ou o “mortal RKO”. Sim, porque estas coisas têm uma linguagem própria que descobri depois.


Mas desculpem-me os fãs do wrestling, com muito respeito pela modalidade e pelas preferências de cada um, mas o espectáculo … o espectáculo …. O espectáculo é mesmo o PÚBLICO.

Pasmo dos pasmos – O público! O público que reage a tudo. O público sabe bem quem são os maus e os bons da fita. O público que ovaciona os bons e vaia os maus. É ver os duelos de socos – o bom bate no mau e YEEEE, o mau bate no bom e UUHHHH. Depois até se pode fechar os olhos ….. YEEEE …. UUHHHH …. YEEEE … UUHHHH …. YEEEE … UUHHHH .. tá visto, soco para lá, soco para cá, num vai e vem de bordoada.

O público que não deixa o coitadinho cantar o god bless américa e quando o gajinho leva na corneta canta o hino nacional a todo o vapor. Nem no Europeu de futebol o hino foi cantado com tanta alma.

O público que vibra com os golpes, que sofre com o miserável que rasteja teatralmente e tenta esticar a mão para passar o testemunho ao comparsa de cacetada depois de arrochar como um rei. O público que pula ao ritmo dos saltos acrobáticos, que ri até às lágrimas com os boquiabertos derrotados (os maus) e que aplaude até à exaustão os bons que perdem.

O público que ferve de despeito com aquele que dá uma mocada à traição, não era a vez dele, está a desvirtuar o combate. O público que ri até doer quando o mau leva um piparote e voa até fora do ringue. O público que sofre com o lutador que ofega dramaticamente depois de levar um belo dum murro ou se entusiasma com o artista que faz uma expressão teatral de regozijo quando prega com o adversário de costas no chão. O público faz o espectáculo!

Mas afinal, este público é a geração do amanhã.

E agora? Será que este espectáculo possa ser classificado como um show de violência? Não sei. Sinceramente não sei. Só sei que fiquei pasmada. Não vi sangue a escorrer, não se partiram braços nem pernas, os lutadores saíram todos pelo seu pé e percebi que aquela pancadaria toda tinha as suas regras. Será uma versão século XXI do boxe? Com um bocadinho de teatro à mistura? Ainda não consegui digerir e acabar com uma opinião sobre eventuais benefícios ou malefícios do wrestling para os jovens, que eram a grande massa de espectadores.

Ou seja, acabei por me divertir.



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