NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA – É QUASE NATAL

Segundo informações do nosso enviado especial, o caos instalou-se nas celebrações natalícias.

Os bacalhaus agendaram uma manifestação de protesto contra a tradição portuga da devastação do fiel amigo. Querem a livre circulação de todos os seus conterrâneos marinhos à mesa dos portugueses.

Os perus foram vistos em concentração em prol da defesa das aves faisanídeas e galináceas, a favor da eleição de white castle como digno representante da classe. Recusam-se a estar presentes na assemble-ceia de 2006 e exibem cartazes “Glu por todos, todos por glu-glu”.

Foi decretado o boicote geral às travessas, tabuleiros, consoadas, cozidos e assados.

Sabe-se que as batatas já aderiram e as couves estão solidárias. Os azeites estão reunidos e espera-se um comunicado oficial em breve. Os alhos renegaram qualquer identificação com a ideologia opressiva do bacalhau quer alho.

A revolução alastrou ao país dos brinquedos. As renas decidiram ir surfar para o hawai, os reis magos estão de greve e, finalmente, o Pai Natal foi apanhado em excesso de velocidade, montado num trenó GT4 Tunning, a cantar o Bacalhau do Quim Barreiros a plenos pulmões.

Bom, parece que neste natal a ceia está comprometida. Mas sobra sempre a família, as nossas queridas baimedabliuus (e demais máquinas) e a amizade em torno das 2 rodas.

Concentração Seita TT - Oliveira do Hospital - Jul 2005


Mais uma vez se juntou um grupo de aventureiros e amantes destes eventos para visitarem uma bonita região do nosso país e confraternizarem com os amigos de Oliveira do Hospital.



Sexta-feira, encontro marcado para as 8:30H na sede do MCL. Lá estávamos quase todos …… à espera de alguém. Às 9:30H decidiu-se – vamos embora! Sai a caravana, uns aceleram, outros não, uns pela nacional, outros pela A1, perderam-se todos!!?

Em Santarém juntou-se o Veiga, em Pombal juntou-se o Vergastas, em Coimbra encontrámos o Pipi. Finalmente juntos, o destino era a casa do Pipi onde nos foi oferecido um excelente churrasco.

Chegámos ao fantástico local da concentração, à beira rio. Após o difícil trabalho de montar as tendas começámos nas minis. A tarde decorreu pacificamente. Minis, veste fato de banho, minis, vamos à água, minis, jantar e fado, minis, bailarico, grade de minis!

Sábado encontro matinal com a ginjinha. Abateram-se duas garrafitas. Ao almoço recebemos a visita de um belo tintinho. De tarde ………. ÁGUA ??????? Alguns membros da excursão foram fazer um cruzeiro pelo rio mas o barco era frágil e os marinheiros foram à água.

Ao jantar começaram as inscrições para o moto clube da vinícula. O bailarico foi concorrido, divertido e de tal forma o pessoal do MCL estava integrado no espírito da região que liderou a dança, arrastando a população numa coreografia digna de um prémio MTV.

Durante a noite houve visitas ao rio, conversas com o gregório, fado à desgarrada e pedidos de roupa interior para quem estava como nasceu. Uma noite inesquecível !!!

O Domingo foi difícil de acordar mas a malta aguenta. O passeio foi interessante, o almoço delicioso, o MCL recebeu o 3º prémio de inscrições. Desmontar o acampamento, despedidas dos simpáticos morcões que nos acompanharam durante o fim-de-semana, vamos à estrada.

E foi assim mais uma representação de simpatia, companheirismo e divertimento que os membros do MCL espalham por onde quer que se desloquem. Como participante desta magnifica concentração quero agradecer a todos os companheiros de estrada pelo espírito de união presente em todas as ocasiões, pelo civismo e respeito com que representam o “matreco” do nosso clube



Nov 2004 - Relato de uma Viagem à Figueira da Foz


SEXTA-FEIRA, 26/11/2004


Alguém marcou a partida às 8 H da matina na sede do clube. Pois é, de manhã é que começa o dia. Para alguns …….Após uma hora e meia de espera (sim, porque os VIPs chegam sempre atrasados! Mas tivemos sorte porque ele fez barba ontem, senão …..) lá arrancámos para a bela cidade da Figueira.

Prego a fundo, mete a primeira, mete segunda (estamos na Cril), terceira a abrir (A8 é nossa!), quarta no red line – pausa para um break. Cafezito, cigarrito e …. chá de limão. Vamos lá embora pessoal. Oh pipi vê lá se me apanhas!!!

Chegámos! Finalmente! 200 Km em 4,5 Horas. Isto é que é velocidade!!!!
E uma grande cidade. Grande. Tão grande que foram necessárias muitas voltas, circulares (conhecemos minuciosamente dois quarteirões), até alguém se lembrar de perguntar o caminho para a pensão.

Pensão Belavista. Senhora à porta com ar desconfiado. Apresentações. São os meninos que telefonaram? Quantos são? Bem, reservei um andar só pra vocês! Então iniciámos a subida, árdua, lenta, devagarinho até à penthouse. Quartos com banho (e sem), águas quente e frias, TV e camas resistentes ao salto em comprimento! Oh menino, adivinhe lá que idade eu tenho? – pergunta a nossa simpática anfitriã. Bom, (diz o moço coçando o bigode) 60 anos? …… não? ……. 70????? Nãooooo?????? Oh menino, que simpático. Dê cá dois beijinhos. Tenho 87 aninhos. ……..(Upppps).

Vamos lá a despachar. Temos de ir prá exposição. Montámos o estaminé, pendurou-se a bandeira do MCL (além de que também tivemos de pregar as tábuas, os suportes, os quadros, o pano e pregámos com uma BM no nosso distinto espaço, facto que “inchou” o respectivo proprietário). UFFFF, tou farto de trabalhar. Já comia qualquer coisa.
Bora almoçar.

Primeiro restaurante à vista cheio de bandeiras do Sporting.

– Eu não entro ali !! Recuso-me a comer num sítio destes !!!!!!!

Bom, visita turística à Figueira. Depois de vários restaurantes finos e tascas malcheirosas, acabámos no restaurante …………… do Sporting. Empregada loura e antipática. Monossílabos e má vontade. Dez minutos depois já mostrava um sorriso. Vinte minutos e rondava a nossa mesa. Trinta minutos depois prometeu que nos ia visitar à exposição. AH, o que fazem os matrecos !!!!!!!??

- Fabuloso, … esta sopa está divina! (quem é que disse que não entrava aqui?)

Ordem do dia – Ninguém se embebeda ao almoço!
A comida estava boa. O branquinho à pressão escorria fresquinho pelas goelas cansadas da looooonga viagem e do “excesso” de trabalho. Ora bolas, não se pode fumar aqui. Bem, a loura diz que podemos ir fumar para o corredor. Só que o balcão estava no caminho e….. tivemos de parar – o São Domingos chamava-nos!!! E vai um, …… outro, …… (não se embebedem já ao almoço), …. e mais um por conta da casa.

Vamos lá trabalhar um bocado … (trabalhar ????? neste estado ?????)
Pavilhão da exposição – conseguimos espalhar o merchandising pela bancada. Ainda bem que trouxemos a garrafita!!! Não é para beber toda hoje, senão amanhã temos de comprar outra (!!! ???)
Deu-se início ao campeonato de raters (humanos). Que estoiro!! (que fedor).
Apareceu o Manivelas. Ofereceu-nos um presente. O Prof. Pardal não conhece. Prova, vais ficar a conhecer o Manivelas (pró resto da vida)! Quem não conhece não percebe nada do mundo das motos!

Aghhhhh ……. Ohhhhh ……. Água, água ……..

E a tarde lá passou, com mais concorrentes ao troféu de RATERS, o Prof agarrado à garrafita da água, alguns visitantes na exposição ……..
Jantar – Encontrámos o Tó Manel. O fundador juntou-se ao pessoal. (bom filho à casa volta). Mariscada. Chegou o Veiga e o Nuno. Toca o telemóvel. Toca outra vez o tlm. E mais uma…….. èpa este gajo não larga o tlm, parece um call center. Chegaram os Rochinhas e a 1ª dama. Vamos prá nigth !

A noite foi dura! Pitinhas, canecos, música, pitinhas e mais canecos. Venham as pitinhas que EU RIPO DO NABO E …. TUMBA!

Ás 7 (sete) da manhã o pipi encomendou o room service. Todos tiveram direito a acordar.

SÁBADO, 27/11/2004

Mais exposição. Chegaram os participantes no passeio MCL. A malta aderiu em força. Veio o Pégaso, o Zé da Lena e a Lena do Zé!. ……..(sem comentários). Mais tarde apareceu o Cerejo.

Almoço no ………...restaurante do Sporting. Free Trial de tarde. Alguns bravos do team MCL despediram-se da família e dos amigos e colaboraram voluntariamente (???????) no espectáculo (gandas malucos, esticados no chão com as motos a passarem por cima). HERÓIS!!!!!
(Informamos que o call center continuava a facturar!)
Acabou o show das motos com os pilotos a queimarem os pneus. Mas a malta não se fica atrás!!!! Voltámos para a nossa banquinha e …… vai de raters. Agora com (ainda) mais concorrentes. O MCL não Pára !!!!!

A direcção foi para o Casino (Gente coisa é outra fina).
Jantar ………. no restaurante do costume! E vamos prá nigth! Bem, motards sem strip tease não são motards! E vamos pró strip. Bom, strip é ……….. strip. MAS não é motivo para parar um call center !!!!!!! Voltámos ao bar no centro. Chegámos tarde. As gajas estavam a sair. O pipi saltitava atrás delas. O Prof. Pardal corria atrás do pipi (e das gajas). O Vinil é que está a dar. Bora Lá! De volta para a pensão. O quarto do Cerejo tem uma arca a barrar a porta.
Às sete da manhã (pra variar) o pipi acordou a malta toda.
A arca voltou a estacionar à porta do Cerejo.

DOMINGO, 28/11/2004

Tempo cinzento. Chove! A malta vai acordando. Abrem-se as portas dos quartos. Ainda cheira a álcool. E a outras coisas (puffff). E a outras também! A arca tem pés!
De novo para a exposição. Chove. Vamos levantar ferro. Arruma-se tudo. As motos e os carros de apoio rumam à estrada. O rochinha lidera o cortejo. Paramos para almoçar.
Boa, vamos ao leitão! Comemos o leitão e……. o leitão comeu-nos a carteira.
Volta prá estrada.
A8 ou A1?
A8 !!! ……..
Não, é melhor A1!!!
A1 ou A8 ?????
Bem, conseguimos chegar a Lisboa.
Caldeirada – Breve Romaria de uma enlatada - Set 2007


Afinal a alvorada já não é às 9h30 da manhã para o encontro de motas com os “mininos”. Afinal vou à caldeirada enlatada. Paciência, lá terei de dormir mais umas horas. Cotados dos “mininos”, viagem em túnel de vento, monótona, claro… eu não estava lá!

Partida combinada às 11h, ou melhor, às 11:30h, partimos perto do meio-dia. Entre quarto portas e sobre 4 rodas, lá rumámos à Capital do Mundo (não diziam que ia chover?). Após um pequeno desvio por Óbidos, Caldas, A15 para Santarém, meia volta e Peniche à vista.
Chegámos não estava ninguém.

O operador de GPS preparou a tenebrosa máquina digital para registar a chegada da procissão BMW. À frente os Pè-nixe-man’s com uns coletes vistosos, atrás os santinhos todos, andores de santas LT’s, RT’s, GS’s e ainda uns representantes de outras religiões de 2 rodas …. com um ar aborrecido (pois! eu não estava lá!).

Descida íngreme da rampa de acesso à caldeirada, destino directo para as entradas que a fome aperta. Passam pratos de camarão, queijinhos frescos correm pelas mesas, rissóis e croquetes passeiam nas mãos de uns quantos devotos, o pão desaparece (a chuva ainda não apareceu).

Na catedral da caldeirada, os lugares frente ao altar da cozinha são selvaticamente disputados. Os crentes lá se arrumam, o burburinho dura até saírem as travessas. A pouco e pouco faz-se silêncio. Ouve-se o sussurro das batatas a deslizar para os pratos, os peixes a encher os pratos, o tomate e os pimentos espirram no molho. Por entre a cerimónia religiosa, anda um devoto com uma máquina gigantesca, qual canhão mealhado, a disparar em todas as direcções. O pessoal sorri, faz pose, faz caretas, os camarões ainda esperneiam na boca de uns quantos (aqui entrariam umas fotos que estão noutra máquina, pois a minha avariou).

Os santos mastigadores conversam, trocam piadas, contam histórias de estradas e viagens até que o cunhado do “Mê cunhado” acaba com a paródia. Está na hora dos discursos. Em grande pose, emocionado, com os braços abertos, agradece a presença dos devotos e introduz os ilustres convidados O Cardeal de Peniche e o Abade da Capital do Mundo pregam uns sermões litúrgicos (lá fora a chuva fez greve).

Eis quando El-Syr toma a palavra (é desta que vai chover?) e apresenta o potencial Papa de Cascais Y Carcavelos. Ponto alto da missa! O futuro Papa-Komandante apresenta a sua candidatura, braços abertos, acena aos devotos, sorri, promete coros celestiais, suecas e brasileiras, o reino dos céus está omnipresente. Um terço de rezas divino, uma palestra perturbadora que incitou os devotos a rezarem com ele, com palmas entusiásticas, gritos e assobios, satisfação olímpica, de tal modo que o Cardeal de Peniche já renunciava à prelatura a candidatava-se a um lugar de acólito na missa das brasileiras.

Os aplausos foram intermináveis … habemos papa!!!!!!!

Finalmente os ânimos acalmaram quando o grande inquisidor da paróquia dos lateiros ameaçou os hereges de ficarem sem sobremesa se não comessem a sopa toda. Os devotos caíram no purgatório e a missa lá voltou à normalidade (a enorme máquina-canhão continuava a disparar). Depois da ameaça, vieram as sobremesas, o café, voltaram as conversas, está a ficar calor, o adro da catedral da caldeirada enchia-se de devotos, barrigas cheias, faces coradas, o mar está calmo, as fotos sucedem-se (cadê a chuva???).

Depois de uma demorada e atribulada foto de grupo (que alguém irá colocar aqui) a romaria começou a dispersar. Beijos, abraços, adeus, boa viagem, motos a trabalhar, a estrada espera (de seguida o relato da viagem de moto não tem interesse, pois eu não estava lá).

Um grande obrigado aos promotores da Romaria à Caldeirada e um grande obrigado ao espírito de amizade desta Comunidade.

Jan 2006 - Pinguinos (de camioneta)

Janeiro de 2006
Concentração "Pinguinos" - Valladolid (Espanha)
O convite para a viagem surgiu no final de Novembro, numa concentração em Alcobaça. Há um grupo de motociclistas, fechado, onde só se entra por convite, grupo de malta muito simpática, gosta de copos e petiscos, incrivelmente social. O convite foi feito e eu aceitei.

Esta viagem já acontece há alguns anos. Juntam-se todos, alugam uma camioneta e vão. Estão-se nas tintas para o facto de irem ou não de moto. Querem é curtir. São motociclistas à séria, mas acima de tudo responsáveis. Uma viagem destas, para Espanha, com este frio e com a dinâmica própria desta concentração, é muito perigosa. Frio, estrada molhada e gelada, copos à mistura dão sempre desgraças. É por isso que os considero pessoas de bem.

A maioria dos participantes reside no Norte de Portugal. A camioneta começa a recolher pessoal no Porto e vem por aí abaixo (uma coisa que este grupo tem é membros por todo o país).

Eu e mais três apanhamos o comboio para Vilar Formoso onde a dita nos ia apanhar.

No comboio começou a palhaçada. Os meus companheiros de viagem são hilariantes. Toda a carruagem ia a rir. Eu até chorei de tanto rir. Chegámos a V. Formoso, ligámos para saber onde eles estavam e…. a camioneta tinha avariado. Estavam à espera do mecânico, parados em Mangualde.

Estava um gelo de rachar. Decidimos entrar num restaurante, para tomar um café e esperar pois lá dentro estava mais quente. As horas passavam e eu decidi jantar. Os meus companheiros não quiseram gastar dinheiro, pois tinham comprado mantimentos (a comida em Espanha é uma porcaria e extremamente cara). À meia-noite o restaurante fechou. Fomos corridos para a rua. Estava muito frio. Então lembraram-se que tinham fome, e vai de assar chouriço no largo da estação. Assador, álcool, pão, tinham levado tudo. Eu já estava a congelar e então descobri que a porta da estação estava aberta. Lá fomos para dentro. Telefonema de novo e a coisa estava atrasada. Enrolámo-nos nos sacos-cama e descansámos um pouco. Às três da madrugada lá apareceu a camioneta. Confusão, põe as mochilas, apareceram umas cervejas, vinho do Porto, etc. Ninguém dorme. Música alta, rock a partir … e lá fomos em grande animação o resto da viagem.


Chegámos à concentração dos inguinos cerca das 6:30h da manhã. Descarregar a tralha, escolher sítio para acampar, armar as tendas, já não vale a pena dormir.

Na concentração há três grandes tendas, com enormes aquecedores, com bares e música abertas 24H sobre 24H. Lá fomos nós ver como estava o ambiente. Vasos gigantescos de whisky com cola, a 3 euros. Um atrás do outro. Finalmente, ao meio-dia percebemos que estávamos com fome. Voltámos para as tendas. Alguém tinha acendido uma enorme fogueira. Surgiram, não sei de onde, febras, entremeada, chouriço, pão, mais vinho, e mais vinho. Petisco, petisco e petisco. Acabámos, fomos tomar café e encontrámos pessoal do moto clube de Chaves. Venham lá, temos ali umas coisinhas. Lá fomos. Bacalhau assado, morcelas, frango, febras e até canja tinham. Às três da tarde não conseguíamos comer mais. Vá de tomar outro café, está muito frio, vamos para as tendas da música. Copos, dança, mais copos, mais dança, um começou a meter-se com uma espanhola, outro distraiu o marido, à tantas o espanhol já pagava copos à malta, a espanhola fez semi-strip…… uma desgraceira.

Sete da tarde. Não vou ficar aqui o dia todo. Lá os arrastei para uma volta à concentração. Descobrimos o Oliveira encharcado em caipirinhas, em estado de coma. Levou-se o rapaz para a Cruz Vermelha. No caminho de volta passámos pelo acampamento da malta de Riachos. Vai mais um copo, mais um petisco.

As horas estavam todas alteradas. Não há horas para comer, todas as horas são para beber. Dormir …. Ninguém dorme !!!!

Decidi abandonar aquela malta e ir até ao nosso acampamento. Os mais velhotes estavam à volta da fogueira. Lá fiquei umas horas na conversa.

10 Horas da noite. O frio cada vez aperta mais. O sítio mais quente é nas tendas grandes. Lá vamos nós, de novo para o quentinho e para os copos. Entretanto fomos ver o fogo de artifício, os concertos e o strip-tease (feminino e masculino) Concentração motard que se preze tem sempre strip!

Já nem me lembro das horas mas o pessoal começava a quebrar. Um adormeceu sentado numa cadeira no meio de uma das tendas, no meio da confusão de música e dança.

Acabámos por ir, finalmente descansar. Já deveriam ser umas quarto horas da manhã. Eu não consegui dormir nada. O barulho das motos não parava. A malta liga, faz barulho, raters, bernaus (queimar o pneu), a minha faz mais barulho que a tua, outro grupo cantava, outros riam. Grande confusão.


Ás seis da manhã já não conseguia estar mais dentro da minha tenda. Saí e descobri outro que também não conseguia dormir. Lá ficámos na conversa à fogueira. Às sete começaram a servir o pequeno-almoço (fazia parte da organização da concentração o jantar de sábado – que não comemos e o P. Almoço de domingo).

Soube bem o pãozinho com doce e um cafezinho quente. Toca a acordar malta. A partida é ás dez horas. Começou então a saída, vergonhosa, das tendas. Caras de ressaca, mal dormidas, alguns ainda não tinham tido tempo de a curar. A muito custo levantámos o acampamento. Às dez chegou a camioneta. Arrumar a tralha, entrar, ninguém dorme. Vamos lá acabar com as cervejas e o vinho. Não quero ir carregado para casa. Outra desgraça.

Finalmente chegámos de novo a Vilar Formoso. Somos os primeiros a sair. Temos de comer qualquer coisa, a fome já dura à umas horas. Às seis da tarde apanhámos o comboio para Lisboa. Restámos os quatro iniciais. Ninguém dorme! Vamos jogar às cartas. Foi o caminho todo de jogatana.

Chegámos a Lisboa às 10:30H. Ainda tive de apanhar o autocarro para casa. À meia-noite estava a tomar um banho. Finalmente. Adormeci e dormi até às 3 H de segunda-feira. Acordei toda partida.
Destino: Marrocos

Foi um destino que me chamou a atenção. Um passeio, em Abril de 2007, organizado pela Motomil com o apoio da Comunidade BMWCKLT. Uma semana em Marrocos para conhecer a diversidade do país, o interior, as montanhas e o deserto. Um percurso pensado para motos de estrada e para motos trail. Assim que li os pormenores da viagem fiquei entusiasmada. Eu e mais 34 pessoas. Deixo aqui um pequeno relato desta magnífica viagem, do que vi, do que senti.
O Início

5h:30m – Ainda cheia de remelas, lá vou eu para a estrada. Nem comi, nem tenho fome e nem dormi. Com a excitação só penso que vou realizar um sonho antigo. Cheguei ao ponto de encontro. Ainda falta pessoal. Afinal deu-me a fome. Enquanto esperava engoli um pãozinho e um galão. E um café, talvez o último decente que vou beber por uns tempos. Vamos embora, temos que chegar ao barco às 4 da tarde. Coluna reunida, as duas meninas motards vão atrás do líder, coluna atrás e dá-lhe gás. 18 motos, um jipe e a carrinha de apoio (cheia de malas nem sei como vai caber alguma moto que avarie).

A2 até ao Sul, estrada vazia, espaço para rolar. Isto promete. Paragem em Almodôvar, aproveito para mais um cafezito. Estrada de novo, começa a chover. Raios, espero que seja apenas um ameaço. Não era. A realíssima acompanhou-nos até ao reino de Espanha. Caía com força, molhava tudo, molhava os ossos. Paragem algures para almoço. As minhas botas pareciam um aquário. Tive de trocar de meias. Já não dá tempo de almoçar, engoli metade de uma sandes a saber a fritos e vamos embora.

A chuva não desiste e o vento faz companhia. Em conjunto, a sinfonia do temporal empurra as motos, embacia as viseiras, bate nas luvas, não se vê nada à frente. Um dos nossos caiu. Não se magoou. Mas o susto foi grande. E a moto perdeu os adornos que piscam, que iluminam e que protegem do vento. Tenta-se o milagre logístico de encaixar a moto entre a bagagem da carrinha. Conseguimos. Aproveitei para trocar de meias. A chuva continua a cair, o vento continua a soprar, faço a viagem a andar de lado. Chegámos ao porto. Perdemos o barco. A torrente de água melhorou, apenas chove. Troquei de meias outra vez.

Apesar de tudo o pessoal estava animado. Em amena cavaqueira, lá esperámos duas horas para embarcar. Raios, já não sei se é melhor apanhar chuva ou aguentar o balanço do barco.

Desembarcámos, entusiasmados, estamos em Marrocos. O cheiro do ar é diferente. Já anoiteceu. Continua a chover. É preciso tratar dos papéis da entrada, é preciso fazer o registo na polícia, é preciso fazer o registo das motos, é preciso falar com aquele oficial que anda com o carimbo mágico no bolso. É a corrida para as formalidades. Agora falta um número, agora vai mudar o turno, onde está o homem do carimbo?

Três horas depois lá conseguimos rumar ao Hotel. Cansados, esfomeados, encharcados, mas cheios de esperança. Afinal é só o primeiro dia e em África não chove. Aterrei na cama e sonhei com coisas quentinhas.

Finalmente em Marrocos


Madrugámos. Temos 600 km para fazer, rumo ao Sul. Continua a chover. Junto à costa, pela auto-estrada, velocidade limitada. Passámos uma portagem. Aqui não se pode facilitar, a polícia está alerta, bem posicionada ao longo da auto-estrada, carrinhas bem visíveis, polícias na faixa de rodagem. A chuva abrandou e aparecem várias famílias sentadas nos rails a acenarem alegremente. Passámos nova portagem. Transeuntes atravessavam a auto-estrada, ovelhas atravessavam a auto-estrada, rebanhos pastam junto ao alcatrão, jovens acenavam estusiasticamente para nós. Passámos outra portagem. Paragem para almoço. Há um bufet de saladas, um menu desconhecido, alguns marroquinos a beber chá, experimentamos as famosas brochettes, temos de pedir as batatas à parte, vamos lá a despachar ainda estamos longe, a casa de banho parece uma repartição, de tanta gente à espera.


Após mais algumas portagens, entrámos em estrada normal. Bom piso, bem sinalizada, o verdadeiro Marrocos faz a sua aparição. As casas são baixas, todas do mesmo tom terra, há tapetes pendurados nos terraços, atravessamos vilas cheias de gente nas ruas, mercados, lojas incríveis, cores, muitas cores, atravessamos pequenas aldeias com casas de terra batida, ocre, crianças, começam a aparecer as palmeiras, a terra é plana, o cheiro é diferente.


Parámos para reagrupar. Está a anoitecer. Lá ao longe adivinham-se as luzes de Marrakesh. O céu fica púrpura-ocre-vermelho-laranja, nem sei que cor é esta. Mas é divina. No infinito as estrelas brilham. São enormes.


Chegámos ao destino. A entrada do Hotel é magnífica. Estou nas mil e uma noites, rodeada de painéis de azulejos, arcos, tapetes, várias nacionalidades, muita gente.


De manhã acordamos tarde. Às nove horas estamos prontos para a cruzada turística. A pé, percorremos as grandes avenidas, vemos a mesquita de fora, entramos nas muralhas da antiga cidadela, deparamos com uma praça gigantesca. Jemaa el Fna é a porta de entrada do labirinto das compras. E a febre começa. Lojas e mais lojas, é só lojas. Lojas de tudo, vende-se tudo. Tapetes, pratos, cerâmicas, chinelas, carretas puxadas por pessoas apressadas, ruas estreitas, lenços pendurados, pergunto o preço e fico pasmada, é muito caro. Tento negociar, fico ali eternamente, o ritual é demorado, a negociação é feroz …… passam mobylettes em excesso de velocidade, cheira a caril, mais lenços, bijutarias, portas em madeira, trabalhadas, lindíssimas, latões, barulho, vidros, pratas, cores, tapetes, o cheiro é intenso, gente atarefada, vendedores, sacas à porta, grupos de turistas, ruas e mais ruelas, labirinto, voltei ao mesmo sítio, não sei se guardo a máquina fotográfica ou se disparo até esgotar o cartão. Nem damos pelas horas passar.









A Montanha e o Deserto

Hoje o dia está lindo. Frio mas muito sol. Céu aberto, limpo. A moto acidentada foi reparada. Tem uns piscas de fabrico próprio, made by Tugas, em material plástico, vulgo gargalo de garrafa e um farolim que aproveitou o restante da garrafa. O Mestre da Ferramenta (o Soeiro) esgotou o stock de fita isoladora e as peças da moto estão todas juntas. Merece um Nobel na arte do improviso.

Só temos 200 km pela frente. De montanha. Partimos. A estrada é boa, as aldeias sucedem-se, as palmeiras nascem junto a cursos de água, começam a aparecer as pedras, começamos a subir, a paisagem muda. Há lojas de pedras e fósseis ao longo da estrada. Arrefece. Subo por entre curvas e mais curvas, meia recta, cotovelo, falésia, frio, sempre a subir, sou ultrapassada por outras motos, surgem estradas lá em baixo, surgem montanhas lá em cima, picos com neve, curvas a subir, o espaço abre-se, a montanha revela-se. Paro. O silêncio é esmagador. Os olhos não abarcam tudo. Respiro fundo. Estou sozinha. Afinal não. Apareceu um marroquino, vindo não sei de onde, quer vender fósseis. Arranco. Continuo a subir. Está muito frio. Há companheiros de viagem parados a tirar fotos. Curva, paisagem, céu, curva, paro para a foto. Por milagre apareceu outro vendedor, desta vez são pedras coloridas. Continuo a subir. Estou quase no topo do mundo. Estou gelada. Há farrapos de neve espalhados pelo caminho. Mas o dia está lindo.









Há uma aldeia lá ao longe. O pessoal parou para almoçar. Surpresa, temos pic-nic. Por entre a confusão de malas da carrinha aparecem caixas cheias de comida. Ocupámos um restaurante. Uns assavam chouriços, outros preparavam belos cachorros cheios de ketchup, outros circulavam com pedaços de presunto, é um banquete à portuguesa. Não falta a pinga nacional nem os berbéres que sabem do Europeu de futebol e conhecem o Figo.


Acabado o repasto, estômago confortado, começamos a descer a montanha. As curvas sucedem-se e começam a intervalar com pedaços de rectas, está menos frio. Das pedras nasce uma vegetação escassa, passamos por aldeias encavalitadas pelas encostas, aparecem de novo as palmeiras. A estrada abre-se, sinto o calor a aquecer as mãos, a montanha ficou para trás. Imponente.


Estamos muito perto de Ouarzazate. Está muito calor. De repente parece que entrámos num forno. Paramos para visitar os estúdios de cinema. Todos de manga curta e óculos de sol lá vamos nós passear entre o Egipto e a Galileia, entre os 10 mandamentos e o Gladiador, breve passagem por Roma, entre cenários grandiosos feitos de madeira e serapilheira, forrados a estuque a imitar pedra e suportados por estacas. Fantástico como nos filmes parece tudo tão real.



Finalmente no Hotel, a piscina chama por nós. Até parece que entrámos noutra dimensão. Ainda hoje de manhã pensei se teria roupa suficiente para o frio que sentia. À noite jantámos ao som de música local, tambores marroquinos e gritos do deserto, danças berbéres e bailarinas lusas, num convívio divertido proporcionado pelos nossos simpáticos patrocinadores.


O despertar foi pacífico. Hoje são apenas 400 km. De deserto, de estradões, de rectas. Ainda temos uma centena de km de montanha mas, depois do dia de ontem, até parece tudo plano. Finalmente o deserto de pedra. Grande, vasto, a perder de vista, no horizonte uma planície fantástica, cheia de pedra, com tufos de arbustos aqui e ali, sinto-me tão pequenina. Kms e mais kms sem vivalma, pequenas aldeias desertas, estrada a perder de vista, rectilínea, com torreões a ladear edificados no meio do nada.




De vez em quando paramos para respirar aquela imensidão, para tirar fotos, para descansar as costas. Pensamos que estamos sozinhos mas não. Vindos não sei de onde aparecem crianças, muitas crianças, meninas com longos trajes carregadas com sacos cheios de pasto, rapazes a pedir moedas. Afinal o deserto não é deserto. O sol queima, o vento começa a soprar, lá ao longe está tudo escuro. Noto pequenos remoinhos, parecem tornados miniatura. O vento sopra mais, levanta a areia, as motos são empurradas, a areia entra por todo o lado. Umas dezenas de kms sob um temporal intenso, desta vez diferente, desta vez atravessámos uma tempestade de areia. Continuo a seguir a moto da frente até acabar a cortina de vento e areia. Parou tão de repente como apareceu. O sol brilha de novo, a estrada continua recta, a paisagem é de pedras, as montanhas lá ao fundo foram cortadas pelo cimo, parecem rectângulos gigantes, há dromedários a pastar perto da estrada.


Ao pôr-do-sol chegámos a Erfoud, uma pequena cidade no meio do nada, com deserto de pedra de um lado e as grandes dunas do outro. O contraste é fantástico. Parece que traçaram uma linha imaginária que divide a pedra e a areia. O Hotel é vermelho vivo, antigo, tem músicos à porta. Ao jantar a mesa do bufet não tinha fim, a comida é deliciosa. Reunimos para combinar o programa para o dia seguinte, em volta de uma ginjinha com que a Maria Rosa nos presenteou. Animada e satisfeita, dormi a sonhar com areia.


É o quinto dia de viagem mas vai ser um dia de descanso. Acordo muito cedo, quero ver o nascer do sol. Na varanda do quarto a vista perde-se. O sol aparece devagarinho, as sombras transformam-se em luz, a paisagem assume toda a paleta de amarelos e vermelhos. Parece outro planeta.

Não sou a única a acordar cedo. Os meus companheiros de viagem já circulam por entre as motos, estão prontos para fazer as pistas do deserto. Vamos embora temos de aproveitar o dia. Uns kms fora de Erfoud e entramos numa pista sem fim. A terra está pisada, tem pequenas pedras roladas, está marcada com pequenas estacas, partes da pista desapareceram, o truque é olhar para longe e tentar adivinhar o percurso. Há que ter atenção, a areia intervala com a pedra, as motos derrapam, alguns caem, ninguém desiste.


Passeámos por vários quilómetros, encontrámos mais aventureiros, encontrámos nómadas, hotéis no meio do nada, tendas e dromedários. Nestes sim, nestes vamos para o meio das dunas. A paisagem de areia é imensa, as dunas não têm fim. O meu mundo transitável acaba aqui.


Cansados, satisfeitos e corados do sol, regressámos ao hotel para jantar. O dia foi fantástico. Nem quero pensar que amanhã começamos a viagem de regresso.







O regresso

Alvorada às seis da manhã. Hoje vai ser duro. Temos cerca de 750 km até Tanger por entre deserto e montanha, por entre vilas e aldeias. O tempo está claro, o sol brilha, partimos em direcção ao Norte. Após umas horas de estrada aberta, de pedra e imensidão, começamos a subir, começam as curvas, o céu fica cinzento, o vento aparece, as subidas intervalam com grandes rectas, estamos a viajar a cerca de mil metros de altitude e continuamos a subir. Estamos a passar o médio Atlas em direcção à floresta dos Cedros.

A nossa amiga chuva aparece de novo, bate forte, é fria. Começo a ficar gelada, as mãos já mexem mal, a estrada é um circuito por entre enormes árvores. O tempo está carregado, cinzento, o verde-escuro das árvores mal se nota. A chuva transforma-se em neve, a paisagem está cheia de bolinhas brancas, fica tudo branco, o vento sopra com força, estou congelada. Estamos a chegar ao cimo, talvez do outro lado o sol brilhe.



A neve abrandou um pouco, vamos começar a descer. O branco fica mais branco, não se vê nada. Instala-se uma espessa cortina de nevoeiro, não vejo a estrada, não vejo paisagem, só vejo os piscas da moto da frente. Não os posso perder, não dá para pensar, é seguir em frente e esperar que isto acabe.


Finalmente saímos do branco. De repente o mundo aparece de novo, cinzento mas real. Paramos para respirar, para descansar, estou congelada, as mãos doem, os pés nem os sinto. Já fizemos 400 km. Falta pouco. Mais quatro horas e chegamos ao destino.


Conseguimos chegar a Tanger ao pôr-do-sol. Rapidamente devorei um jantar bem quentinho e aterrei na cama, exausta.


Acordámos cedo de novo. Dormir é coisa rara nesta viagem. Temos de apanhar o primeiro barco da manhã senão temos o regresso comprometido. Às cinco da manhã já íamos a caminho do porto, de volta para o barco, de volta para a Europa. Ao nascer do sol estamos em Tarifa. Nem acredito que está a acabar. O grupo divide-se, começam as despedidas. Uns voltam pelo Rosal, outros pelo Algarve. A partida é difícil, sinto que todos queremos voltar para trás de novo.


Meia atordoada, sigo os meus companheiros. A estrada já não tem vida, a paisagem já não é amarela, já não cheira a especiarias. Começa a chover de novo, chove até ao Alentejo. Já nem sinto, já não me incomoda, agora quero chegar a casa, passar as fotos para o PC e tentar prolongar mais um pouco esta aventura, reviver as brincadeiras, a camaradagem, as peripécias de Marrocos.


Um sonho de viagem, escrita em duas páginas mas com muito, muito mais recordações gravadas na memória e nos sentidos. Vou andar com sorriso nos lábios por muito tempo. Obrigada aos meus companheiros da Comunidade BMWCKLT e aos restantes participantes. Obrigada à Maria Rosa e ao Eng. Martins de Carvalho por terem organizado este magnífico passeio. Senti-me segura, senti-me protegida, sinto-me bem!

 


 
 

Abril 2007 - Crónica de uma Viagem a Marrocos


No passado mês de Abril (2007) participei num passeio a Marrocos organizado pela MOTOMIL em parceria com a Comunidade BMWCKLT, o qual contou com a participação de 35 pessoas, entre clientes do concessionário e membros da Comunidade. Neste passeio, com a duração de uma semana (de 31 de Março a 7 de Abril de 2007), a organização escolheu um percurso variado percorrendo os diferentes cenários de Marrocos. Assim, o passeio foi centrado no Sul do país, entre montanhas e deserto, em percursos de asfalto pensados para motos de estrada com alternativa de pistas de terra e areia para motos trail.


Crónica de uma Viagem a Marrocos

Já muito se tem falado de Marrocos e muitas são as fotos de viagens. Nesta crónica pretendo apenas falar deste passeio numa outra perspectiva – a VIAGEM. Começo por agradecer à organização, aos companheiros de viagem, a todo o calor humano, simpatia e boa disposição que nos acompanharam nesta semana fantástica. Faço aqui um resumo (sim porque muito mais haveria para escrever) sobre a aventura marroquina.

1ª Etapa – Lisboa - Marrakesh

A VIAGEM começou com o encontro às 6 da manhã para um pequeno-almoço gentilmente oferecido pelos nossos organizadores. Todos estávamos excitados, desejosos de ir para a estrada. Sandes, galão, cafezito … estamos todos … vamos lá embora. Máquinas a trabalhar e a estrada é nossa. O sol nascia e a coluna partiu. 18 Motos, um jipe e a carrinha de apoio às máquinas (e às malas).

A primeira parte foi rápida. À frente ia o co-produtor que liderou as hostes até à estação de serviço de Almodôvar. Recuperámos a meia hora de atraso da saída. Boa! Isto está a correr bem. Mal sabíamos nós que foi apenas um docinho do destino. Em terras algarvias, a chuva apareceu para nos fazer companhia e acompanhou-nos sempre em terras de nuestros hermanos. Rápida paragem para almoço, todos encharcados, alguns espremiam as meias, outros vestiam mais roupa. Mas a malta não desanimou. Vamos para África. Lá não chove!?

Estrada de novo, o vento decide fazer companhia à chuva. Muito transito. Lá à frente vejo a malta a parar. Vejo umas malas no chão. Caiu alguém. Nem quero olhar. Há um grupo à volta de uma moto caída. Espero. Não se vêm movimentos de pânico. Finalmente arranjo coragem para ir espreitar. Afinal foi só o susto. E que susto!!! Não há feridos. As roupas de protecção funcionam e Deus está connosco. A moto toda amachucada ainda rola. Vamos embora. Nova paragem. È preciso ver bem os estragos, descansar o espírito e expulsar o medo de novos desaires. A moto é carregada na carrinha. Vamos embora que se faz tarde.

O nosso organizador parte à frente. É preciso ir levantar os bilhetes do barco, já estamos atrasados. A coluna dispersou, a chuva continuou, o vento mostrou toda a sua força, as motos eram empurradas para a outra faixa mas mesmo a andar de lado, todos chegaram quase ao mesmo tempo. Perdemos o barco. Vamos no próximo. Duas horas depois embarcávamos. A chuva queria ir connosco.

Encharcados, cansados, esfomeados, já em Marrocos, deparámos com as formalidades fronteiriças marroquinas. É necessário ir à polícia carimbar o passaporte. É preciso carimbar o papel dos veículos. É preciso falar com aquele marroquino do carimbo. Está uma fila enorme de gente. Falta um número no papel. Falta mostrar o bilhete do barco. Falta … falta …. Já todos têm tudo? Não. Ainda faltam alguns. Corrida para aqui, papel para ali e três horas depois a coluna reunia-se atrás da organização a caminho do hotel. Finalmente chegámos. Oppsss…. a esta hora a cozinha está a fechar. O nosso paciente líder falou com a direcção e lá conseguimos jantar. Arrasados caímos na cama.


Alvorada às 7 da manhã. Vamos para sul. Aqui não deve chover. Engano! A nossa amiga água estava numa de ir de férias connosco. Auto-estrada marroquina, debaixo de chuva. Velocidade máxima – 120km/hora. Não dá para facilitar. A polícia está por todo o lado. Carrinhas paradas na auto-estrada, polícias a meio da estrada. Vamos com calma. Os marroquinos gostam de ver carros a passar. Famílias completas, sentadas alegremente nos rails acenam para nós. Cães, ovelhas e outros animais atravessam a auto-estrada na sua azáfama diária. Uma alegria!




A Viagem segue por uma estrada normal. Bom piso, sinalização, rebanhos, burritos, muita gente, a estrada tem vida própria. A chuva abrandou. Chegámos a Marrakesh. O hotel é soberbo.


Hoje podemos levantar tarde. 9 Horas estavam todos prontos para a visita à cidade. Passeio (a pé) pelas avenidas até ao centro, a famosa praça Jemaa el Fna e o bairro antigo. Milhares de lojas, milhares de vendedores, …“bom jour madame” …pratos, bijutarias, tapetes… lenços, especiarias, malas e tapetes, … cabedais, lenços, chinelas (made in china) e tapetes, … presentes, sumo de laranja, pratas, latões, tapetes … a confusão é total. Pelas ruelas estreitas vêem-se turistas, locais que puxam carretas com tudo o que se possa imaginar, mobylettes passam a alta velocidade, ouve-se falar um misto de linguagem que se percebe ser parecido com um francês espanholado, temperado com alguns termos em inglês arcaico ……“olá, que tal?” … Espanhol? …. Français? … Viens ici … Articles berbère. … Azáfama, turistas, cheiros intensos, muito colorido, tapetes, os flashes das máquinas fotográficas não param, o Doutor comprava tudo, esfusiante com um enorme saco dizia “je suis un peaux berbère” ….



No país dos contrastes onde as carroças estacionam lado a lado com belos Mercedes, vendedores pedem um preço por artigos que acabam por vender por um décimo. Temos de negociar, é preciso ter arte de cigano, … trot cher … combien? … non, je peaux pás … Alors ok !!! … Tá feito, compramos a pensar se fizemos um bom negócio ou se fomos redondamente enganados …


2º Etapa – Marrakesh – Ouarzazate - Erfoud


Partida para Ouarzazate. Só temos 200 km para fazer. Hoje vai ser um dia calmo. As motos foram todas revistas pelo Guru da mecânica (o Soeiro) que até conseguiu por a moto acidentada a andar, toda ela atada com fita isoladora e uns piscas e farolim fabricados com garrafas de plástico dignos de patente mundial. Estamos prontos. Montanha, subida, curvas, frio, aldeias, subida, curvas, casotas de cadeaux, subida, muito frio, curvas, a paisagem é sublime, curvas, mais uma venda, paragem para a foto, aparece um marroquino vindo do nada a vender cristais, curvas, a vista perde-se, muito mais frio, o silêncio é cortado pelo barulho do vento, curvas, subida, aldeias encavalitadas pela encosta, mais um marroquino aparecido por magia a vender fósseis, as montanhas ao fundo cobertas de neve, estamos no céu. A passagem pelo alto Atlas é de cortar a respiração!




 Paragem para almoço. A Mãezinha Rosinha preparou um belo pic-nic. Num restaurante gentilmente cedido para o ritual de assar o belo chouriço, os queijos tugas, o presunto, as salsichas e o panrico acompanharam a vinhaça nacional, tudo regado com uns simpáticos vendedores que já eram adeptos do Benfica e do Figo e que pediam aspirinas, stylos, bolachas para as crianças, enquanto atendiam os telemóveis ….


A Viagem continua … descemos a montanha, a paisagem começa a mudar, a terra está a secar, as rectas sucedem-se … em cerca de 100 km temperatura passa de 10 para 30 graus ….


Chegada a Ouarzazate, visitámos os estúdios de cinema onde rodaram os 10 mandamentos, o Gladiador e outras epopeias … ora estamos no Egipto, ora na Galileia ou em Roma …chegada ao hotel e tempo para um mergulho na piscina … Ou est que je peaux acheter un fatô-de-banhô?... Vamos jantar. Os nossos simpáticos patrocinadores da Motomil presentearam-nos com um excelente repasto, acompanhado com música e danças tradicionais cujas protagonistas fizeram inveja às mulheres locais. A boa disposição reinava!


Partida para Erfoud. Agora é que é!!! Deserto aqui vamos nós!!! Por uma antiga pista recentemente alcatroada, estamos no deserto de pedra. Planícies a perder de vista com as montanhas lá bem ao fundo, tufos de erva aqui e ali, passagem junto a cursos de água onde a vegetação floresce à sombra das palmeiras, mais paisagem seca, mais rectas, a estrada é estreita, passam muitos jipes, mais pedra, paramos para a foto, não há ninguém, afinal há crianças a nascer do chão, vamos andar, calor, pedra, passam algumas camionetas de excursão, cuidado não cabemos todos, fomos atirados para a berma.


Há bocados de estrada que faltam. Nos buracos as motos mais pesadas perdem os espelhos. No problem. O mister da ferramenta resolve tudo. Lá ao longe a paisagem está escura. Não, não pode ser chuva de novo. Surpresa, é pó. É areia. Aproximamo-nos e as motos abanam. O vento sopra com energia. A areia entra furiosamente por todo lado. É uma tempestade de areia … rápida, ciclónica, negra, desaparece com a velocidade com que apareceu. Foram só uns poucos km mas deu para perceber os caprichos da Natureza.


Segue viagem, o sol está a desaparecer, as cores são fantásticas, os olhos não conseguem abarcar a imensidão, as pedras misturam-se com a areia, anoitece, o céu é sublime, as estrelas são enormes.


Chegada ao simpático hotel que nos recebe com músicos tradicionais, não há elevador, as escadas são típicas, as portas trabalham ao ritmo lento do deserto fechando quando lhes apetece. O jantar é apetitoso. Há piscina e animais exóticos no jardim.


Erfoud! Visita à cidade e arredores. O grupo divide-se conforme os gostos. Uns vão para as pistas, outros por estrada normal até ao Erg Chebi, outros alugam jipes. Todos experimentam a aventura do deserto, rolam pelas grandes dunas, trazem areia em todas as dobras de roupa, bolsos e outros locais menos apropriados. Todos experimentam um raid dromedário, alguns precavidos passeiam em camelos com o capacete. Segurança acima de tudo!


O Doutor vai de moto atrás dos jipes que rodam pela pista. Leva as pernitas abertas qual pára-quedas. Cai. Levanta-se. Continua atrás. Vai lento mas vai! Começa a ganhar confiança. Cai. De repente é ultrapassado por uma mobylette. Acorda. Dá-lhe gás. Aí vai ele. Consegue chegar ao alcatrão à frente do berbère da mobylette. Desafio ultrapassado!!!!!





3ª Etapa – Erfoud – Tanger – Lisboa


Vamos madrugar. A viagem é longa. Esperam-nos cerca de 700 km. Partimos rumo ao Norte. Temos o médio Atlas pela frente. Começa a aventura climática. O frio surge aos poucos. A chuva decide acompanhar. Começamos a subir por uma estrada sinuosa, fria e molhada. Cada vez mais alto, é o dilúvio. Não se vê nada à frente. Aproximamo-nos da Floresta dos Cedros. O vento não quer ficar incógnito e sopra com força. Os ossos estão gelados. As roupas ensopadas. A paisagem está salpicada de branco. Que é isto??? … Flocos brancos??? … NEVE??? … Mãezinha porque me deixaste vir???


A paisagem é fantástica. Há penduras profissionais na arte de disparar fotos, (até com uma máquina em cada mão). A grande mancha escura das árvores sobressai do cinzento temporal que nos rodeia. Pena não ter tempo para ver tudo. A condução é perigosa. Não consigo mexer as mãos. Quero passar para o outro lado da montanha, talvez o tempo acalme. Começamos a descer. Instala-se uma cortina de nevoeiro que não deixa ver a moto da frente. Está tudo branco. A terra é branca, o ar está branco.




Finalmente saímos do branco. Já fizemos quase 400 km. Está quase. Só faltam cerca de 300km de auto-estrada. Agora vai ser mais fácil, apenas chove. A temperatura melhorou. Chegámos a Tanger ainda a horas de jantar. Boa.


Alvorada às 4:45 horas da manhã. A malta está cansada. Dormimos à pressa. Vamos para a fronteira a ver se apanhamos o 1º barco da manhã. O sol nasce já connosco na fila para os passaportes. A coisa corre bem. Estamos a caminho da Europa. Já em Tarifa o grupo divide-se. Começam as despedidas. Nos olhos de todos viam-se já as saudades. Se a vida o permitisse voltávamos já para trás, fazíamos tudo outra vez.


Chegámos todos bem. Acabou. Estou de rastos. Sonho com um banho de imersão, com a minha caminha quentinha, com uma noite de sono com mais de 5 horas ……


Mas amanhã já estou pronta para repetir a VIAGEM. Para repetir a camaradagem, as brincadeiras, a boa disposição, os quilómetros, o frio, a chuva, o sol, as tempestades, a beleza e as contradições de Marrocos.


Quero deixar um agradecimento especial ao Eng. Martins de Carvalho que nos guiou nesta aventura, sempre incansável, sempre protector, sempre preocupado, à Maria Rosa pela simpatia, pela alegria, pelos excelentes conselhos gastronómicos, ao Soeiro que sempre em último lugar não deixou ficar nenhuma moto para trás, constantemente a vigiar a mecânica sempre com simpatia e, principalmente, um grande Obrigado a todos os companheiros de viagem, tanto da Comunidade BMWCKLT como dos restantes que aderiram a esta magnífica aventura!!!



Mai 2007 - Observação do duelo vida/morte


Penso que a operação correu bem. Foram 3,5H na sala de operações. Não me lembro de nada pois além da anestesia raquidiana (parecida com a epidural) eu pedi ao médico que me desse algo para dormir durante a operação. Acordei meia atordoada e nem percebi bem o que os médicos comentaram acerca do que fizeram. Esta semana vou mudar o penso e saber melhor o que fizeram. Apenas me lembro vagamente que falaram em ter o joelho em mau estado.

Fui operada na sexta de manhã. Após sair da sala de operações começou a experiência inquietante de entrar em contacto com a realidade de Hospitais. S. Lázaro é um edifício construído no século passado que não está preparado para o fim a que se destina. Corredores estreitos, elevadores que mal chegam para caber uma cama. É uma experiência alucinante andar deitada numa maca a rasar as paredes e dobrar as esquinas dos corredores a confiar na perícia matemática dos maqueiros. Parece que a todo o momento vamos bater nas barras de protecção, nos carrinhos de medicamentos, em tudo.

Constatei que S. Lazaro é um hospital de velhotes …. em fim de vida. A média de idades deve rondar os 60 anos. Algumas velhinhas já não são gente. Parecem mais vegetais. Não falam, não se mexem, têm o olhar vazio. Têm pés partidos, fémures partidos, mazelas de quedas e desequilíbrios. Paira por aquelas salas e corredores a sombra da morte. Durante a noite não consegui dormir. Sentia que os espíritos das trevas andavam por ali, a festejar a ceifa das almas. Dançavam por entre as camas na escolha das próximas vítimas, aquelas mais frágeis, cujo sopro de vida as estava a abandonar. Os enfermeiros assemelhavam-se a um corpo de luta contra a escuridão mas, senti que os seus os esforços não dariam resultado em muitas das situações. Pedi para me darem algo para dormir, para me alhear daquele ambiente, mas sem sucesso. A médica não tinha prescrito a medicação, apenas analgésicos.

Às 7 da manhã mudou o turno. A enfermeira veio dizer-me que tinha autorização de alta para sábado e perguntou-me como queria fazer. A minha rápida resposta foi: Quero sair já! Liguei à minha mãe, ainda de madrugada e pedi-lhe que me viesse buscar o mais rápido que podia. Só queria sair dali, fugir daquele ambiente que, embora pintado de cor de laranja alegre, não era suficiente para disfarçar a sensação de impotência da vida perante a morte.

Durante o período em que fui às consultas externas de preparação já me tinha apercebido de que a maioria dos pacientes de ortopedia (e de outras especialidades) eram pessoas de idade. Mas nunca pensei encontrar o que vi.

Partilho aqui com todos algo que me perturbou profundamente. A operação, as dores que tive, não me incomodaram tanto como o ambiente que vivi.

POR FAVOR, TENTEM ENVELHECER TODOS NA MELHOR FORMA QUE PUDEREM. RESGUARDEM-SE, ALIMENTEM-SE BEM, FAÇAM DESPORTO E, PRINCIPALMENTE APROVEITEM A VIDA.

Set 2006 - Passeio a Piódão

Sábado, 30 Setembro, 8H da noite, ao telefone:
- Então gaja? Vens ou não? Olha que é muita giro. A malta que vai é 5 estrelas ….
- hummm … não sei Dulce, não conheço ninguém …
- Então tá decidido! Estou aí às 9H da manhã!!!

Domingo, 08:30H da madrugada – toca o telefone – É só pra dizer que está na hora …. Estou quase a chegar …. (Aiiiiii, não era só às nove? Tenho mesmo que sair da cama? A um Domingo????? Esta malta não dorme?) ….. 08:45H – A Dulce está à porta ….. (Ainda meia a cambalear, depois de ter dormido à pressa, arrasto-me para fora de casa).
- Dá pra um cafezito ????

9H da manhã – Campo Grande – Ainda se viam alguns madrugadores da noite a comer uns pregos na roulotte ….. A Green embarca no bólide negro – Háá … máquina infernal, papa kms, chegámos à área de serviço de Leiria (e nem dei conta) …… - Só um cafezito, pleaaaase …..
São 10:15H (hora a que eu ainda estaria a dar a volta para o outro lado) … toca o tlm
- Dulcinha, onde estás? (Era o SataN a controlar a logística do evento)
– Não te preocupes lindinho, estamos quase a chegar …
- Ahhhhh é que eu acordei agora…….

Entrámos de novo na nave espacial e, rumo à estação de Coimbra B, paragem combinada para ir buscar a Greennyees ao comboio (!!!??? …. Mas ela não vem aqui ?????). O SataN insistiu que nos iria buscar à entrada de Coimbra. Para quê, dizia a Dulce … eu sei muito bem o caminho …. Este gajo …… Liga outra vez o SataN – então Dulcinha? …. Oh gajo, não sejas stressado, estamos a chegar ……. Chegámos (a Coimbra) …. Vamos lá ligar ….
- Tou, SataN, estamos em frente do centro de saúde….
- Não sei onde é isso mas chego lá ! (????? Ele não é de Coimbra????)

Aparecem duas motos, passam do outro lado da avenida e …... desaparecem …… esperamos …..… aparecem outra vez (já descobriram o centro de saúde) ….. Isto é que são horas de chegar? Pergunta o SataN (Eram 11:05H), vamos lá, a malta está toda à espera …. A Dulce começou a deitar fumo ….. E eu pensava que era stressada, este gajo bate-me aos pontos. Finalmente Coimbra B, onde já estava um nº considerável de motos (desculpem não referir nomes mas não decorei todos). Cumprimentos, apresentações, beijinhos, olá, que saudades, a viagem foi boa? ….. Onde estão as Transalps? …..Áhhhh tá aqui uma!!!! …..Quem falta? Falta o pessoal que vem do Norte … esperamos ….. afinal estão atrasados…. Vão direitos à Aguieira … vamos andando !!!! (queria referir o entusiasmo da Green ao descobrir as vantagens do GPS – cortesia do SataN que não queria que as meninas se perdessem – a Dulce continuava a espumar – Este gajo pensa que eu me perco). Chegadas à estação de serviço da IP3, esperavam-nos mais três motos (mais uma vez não consigo lembrar os nomes – já descobriram uma das razões do meu nick) …. Cumprimentos, beijinhos, apresentações, beijinhos, fotos, quem falta? A malta do norte, esperamos, chegam logo a seguir, cumprimentos, beijinhos, vamos lá andar, estou com fome, está o resto do pessoal em Tábua à espera (ainda mais gente?)

Chegada a Tábua, largo da Câmara, os últimos aderentes ao passeio esperavam-nos. Cumprimentos, beijinhos, fotos (arrumação das motos em frente à Câmara), poses, estou com fome, vamos lá andar (de moto) …. 200m à frente o restaurante …. O bengaleiro abriu e ficou cheio de capacetes, blusões, sacos de depósito ….. afinal de carro dá jeito .. humm …hummm… Entrar, a mesa está preparada, era numa sala reservada, sentar, conversar, Óhh chefe, pode começar a servir …..

As hostilidades culinárias começaram pelas saladas, arroz de feijão, batatas fritas, carne, conversa, piadas, aquele rapaz magrinho não pára de comer, carne, bacalhau assado, carne, batatas fritas, carne, socorro já não posso ver mais comida à frente, venha mais carne, mais arroz, agora é só uma picanhazita para experimentarem (o fininho continuava a comer), já trago mais entremeada, mais conversa, carne, a salada não quis voltar, as batatas repetiram, estavam a gostar da malta … conversa, piadas, éhhh não traga mais comida ….. retiram as travessas – Então, interrompem a refeição? (diz o magrinho) - sobremesa, café, conversa “Vou mandar-te uma foto minha” … “Sim, manda que a minha mãe não acredita em abortos”…. Café, conversa, estou a rebentar, preciso apanhar ar, vamos lá pra fora … e agora? Vamos até ao Piódão?

Motos a trabalhar, lá vamos nós para a 2ª fase do passeio ….. direcção Piódão ….. visitas a aldeias rústicas, gente simpática … - Onde é a concentração de motos? … - Não amigo, é apenas um passeio de amigos ……afinal 16(?) motos é um acontecimento práquelas bandas … vamos primeiro à Fraga da Pena …. No cruzamento para a visita cultural, a Dulce pára, o SataN que vinha atrás pára, e… - Eu não vou, já conheço e como estou de saltos altos, não posso subir até lá ….. o resto do pessoal já tinha avançado estrada abaixo …… bem, se o destino é Piódão, vamos andando. - Ok, vamos lá ter.

Começou então a cruzada Trans-Alpes Portugueses. Iniciámos a subida, subimos, estrada mais ou menos, subimos, começaram as curvas, subimos, a estrada começou a degradar-se, curva, subimos, esta é íngreme, primeira, força na subida, é mesmo íngreme, estamos no topo do mundo, ….. aiii que a estrada vai acabar,…. vertigem, …..só se vê céuuuu…… vamos caaaaiiiiirrrr….. ufffff … afinal a estrada continua, a direito, valha-nos Deus, curva, a direito, mais curva, contracurva, paisagem à esquerda, mais curva, outro eSSe, olha em frente, curva, contracurva, à esquerda é vertigem, a estrada vai desaparecendo, curva, caminho, contracurva, estreito, onde é que está a estrada?, curva, direita, esquerda, afinal isto não acaba, quem é que dizia que eram só 20 Km, mais ou menos meia hora, é já ali ????, ……. estamos no Alentejo???? ……... Mais curvas, terra, estrada kaput, abateu tudo, lá em baixo …. Piódão…. Uff estamos a chegar …. Agora é descer, mas onde está a estrada ….. curva, lama, pedras, todo-o-terreno, descida, curva, vem aí um carrrrooooo, não cabemos, uff foi por um triz….

Piódão – Ai os meus meninos, não conseguem passar neste caminho…. Vão demorar a chegar …. Isto é perigoso, temos de os avisar …. Ainda algum se magoa…. A Dulce prepara o tlm … não tem tempo,…. o SataN liga! ….– Dulcinha, afinal não vamos aí acima …….??????

Óhhh raios, e nós preocupadíssimas com eles …. Sentadas na esplanada, decidimos voltar para Lisboa. Já se fazia tarde. O que vale é que a estrada do outro lado da serra é melhor …. Voltamos ao carro ….. Uppss, a estrada está cortada, desapareceu, abateu completamente, não se passa de um lado para o outro da aldeia. Entretanto descobrimos que ainda havia mercadoria no bengaleiro …… temos de fazer isto tudo outra vez???

A dama de ferro tomou uma decisão …. Para quem já fez isto uma vez, agora é canja….. e lá fomos. Primeira a fundo, subimos por um trilho a que chamam estrada, já nada metia medo à Dulce …. Curva, direito, contracurva, paisagem à direita (desta vez a vertigem mudou de posição), curva, contracurva, começámos a descer, curva, desce, a estrada decidiu aparecer, já se notava a existência de alcatrão, desce, entra numa estrada mais principal (para nós uma verdadeira auto-estrada), desce, curva, contracurva, direito, Coja à vista.

Liga o SataN …. Estamos a seguir aos bombeiros, à esquerda … nós também … onde?... não os vejo …. À esquerda a seguir aos bombeiros …. Sim estamos aqui no parque de estacionamento …. Nós também ….. onde estás que não te vejo ????? …..

Jun 2003 - Crónica de uma corrida e ... de um passeio pelo campo

Crónica de uma corrida
O Motoclube Lisboa participou em mais um evento social, uma iniciativa de carácter solidário. Não venho comentar sobre a iniciativa, venho apenas relatar os acontecimentos de uma manhã de sábado.

Pois bem, à hora combinada lá foram aparecendo meia dúzia de madrugadores, violentamente arrancados dos lençóis, para responder ao apelo do nosso Presidente. Ele bem contava as presenças (começou a dita contagem na véspera, preocupado em conseguir ter dedos suficientes para tantos voluntários), mas após uma longa e cansativa sessão de trabalho nocturna no escritório habitual ... a malta estava arrasada.

O primeiro café da manhã ajudou estes heróicos resistentes a encarar a missão. Dado o apito de partida lá arrancou tudo para o dito cortejo. Mas aqui é que começou a aventura. Uma saída de estacionamento por cima de um traço contínuo, logo seguida por uma marcha em velocidade estonteante. Acelerando pelas avenidas, vertiginosamente, em primeira a fundo. cruzamentos, sinais vermelhos, polícia, nada os parava. Emocionados, os transeuntes aplaudiam, ofereciam garrafas de água, juntavam-se ao cortejo. Era uma fantástica prova de perícia, de tal forma que o nosso Presidente (e a sua moto) até subiu um passeio, para deitar uma garrafa vazia no caixote. O Raspas, ressonava e andava.

Quando o calor começou a ser insuportável, as simpáticas penduras mostraram a sua perícia, qual golpe de malabarismo, e tiraram os casacos ..... em andamento. Foi o êxtase. Todos os atletas corriam atrás deles. Alguns, caminhavam. E eles, sempre a “acelerar”, continuavam a abrir caminho à maratona. Escorregavam pelas avenidas de motor desligado.

Mas o sonho estava a acabar. As máquinas acusavam o esforço e começavam a aquecer. Forçados a abandonar a iniciativa, tão notáveis participantes lá se arrastaram até à bonita praça junto ao rio. A aventura acabou e sob um sol radioso ... retiraram-se.

...... e de um passeio pelo campo

Após uma corrida matinal tão emocionante, o encontro para o almoço estava marcado. À porta da sede começavam a aparecer os candidatos ao petisco. O Rocha verificava as presenças. O Raspadinha finalmente acordou. O tempo começou a passar .... então vamos lá ? Já comia qualquer coisa. Arrancámos, ordeiramente, com destino ao Ribatejo. A viagem foi pacífica. O Rochinha liderava as hostes.

À chegada – maldição, as brasas ainda não estavam em brasa. E a fomeca a apertar. O nosso Guru espiritual cuidava do fogo divino. Mas a coisa prometia. Caixas de carnicha boa (o picanhas esmerou-se), enchidos, batatas fritas, paozinho branco, saladita, enfim, do melhor.

Dois dedos de conversa, abre-se uma bejeca, está cá um calor .....! E as brasas ainda não estão ao ponto. Vai outra loura. Corta-se o pão, abrem-se os primeiros pacotes de batatas, o gosto salgadinho pede outro comprimido para as dores. Toca um telemóvel. João? Que estás a fazer no Alentejo ???? É Ribatejo meu!

Eis que aparecem as morcelas. A malta atira-se com garra. Oba, Oba, sem abcesso vai tudo à dentada. A conversa esmorece. A linguiça está muito boa. Para não empanturrar, vamos à pesca de outra piquena. Agora o estômago começa a sorrir. Alguém se lembrou de temperar a salada. Entremeada, Hurra! De prato na mão a malta está contente. Isto pede outra bejeca. Vamos à pesca. Não trouxeram uma televisão ?

E as febras ??? Onde estão ???? Já dava ao dente. As travessas continuam vazias. Raios, as ditas não têm tempo de chegar à mesa. Mas o Neves ainda não parou .... já descobri ! Tenho de ir à grelha e fazer uma requisição directa. O esforço da caminhada pede mais uma loura. Ó Rocha, não comes nada?

E assim foi até a rapaziada ficar satisfeita. Belo petisco. A conversa aquece de novo. Formam-se vários grupos. Há que repousar, conversar um bocadinho para fazer boquinha para outra loirinha. A Xana arregala os olhos de contente – he! he! he! ... aqui não há balcão. Hoje estou de folga.

Diacho, cada vez que vou à pesca rapo frio. E as lá do fundo são as melhores, fresquinhas. O arrepio vai até ao ombro. Não interessa, é por uma boa causa. O Raspadinha corre atrás da lontra. A culpa não é minha! Elas aparecem-me à frente ..... e eu tenho que as beber!
Ouviu-se alguém a queixar que não havia televisão. Nem linhas de eléctrico!


E a tarde correu, calmamente. Conversou-se, falou-se, contaram-se histórias, jogaram-se matraquilhos. O Daniel não se cala, nem pára de mastigar. A moleza apareceu ....... o melhor é ir buscar outra mine. Isto faz bem às dores na coluna. Já me sinto melhor.

O Guru finalmente atacou o bacalhau ! Estes animais carnívoros não sabem o que é bom! Só falta o batido de atum.

Pelas cinco da tarde, os efeitos do esforço começavam a sentir-se. O Guru comia batatas fritas com mostarda (perdão, mostarda com batatas). A Susanita, cansada de tanta salada e de tratar dos meninos, adormece, rodeada de despojos do trabalho. O Ministro não entendia porque não tinha fome nem sede, mas continuava com a boca seca. Alguém mandou um objecto para dentro do "frigorífico" – saltou água para todos os lados. Raios, ainda há mines lá dentro. Não estraguem. O Bidon queria ser Gigabytes. E o Rocha? O gajo não come nada...... nem bebe alcool !

Aquele tipo de moscavide ainda não largou a grelha. Só mais uma febra pró lanche. Só para aconchegar.

Levantou-se o vento. Temos de arrumar esta tralha. É melhor chegar a casa antes que a Maria venda os perfumes todos. Oh malta, toca a ajudar. Muito a custo o pessoal erguia-se dos bancos. Caixas, restos de grades, material diverso, lixo, tudo desaparece lentamente. Blusões, capacetes, está a ficar frio, vamos lá arregaçar. Barulho, as motas estão a trabalhar. Não é preciso aquecer, quentinhos já nós estamos. Apita a partida. Brummm. A estrada é nossa. Formam-se vários grupos: Vamos lá despachar que ainda temos de passar no escritório hoje; Éh pá, calminha, devagarinho também chego a Lisboa. Vou muito pesado.